Meu Eu e suas (in)capacidades

Felix Ribeiro
2 min readJul 8, 2020

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O medo do não saber, do não fazer direito, de falhar e ficar frente a frente com o meu eu-incapaz me assola e rodeia.
É como um gato que está delicadamente esperando para o bote certo. Me perceber limitado e possivelmente não totalmente capaz é tão ladino que sempre me atento ao todo ao redor — ou pelo menos tento (e falho). Totalmente capaz… Total para quem? Para mim ou para o outro-eu? Até em me perdoar às vezes não sou capaz… Como disse, é como um gato a espreita só esperando o melhor momento. Eu sinto a tensão no ar, quase consigo tocar quando sinto o cheiro do medo da incapacidade rodeando, com o rabo lentamente balançando na altura do chão.

Sou como um cão a farejar. Farejar para identificar e atacar. Enquanto farejo o que ainda não consigo ver rosno… Os pelos de minha espinha ficam saltados como uma serra de pontas. O ar sai quente pela narina levando consigo o som trepidante que emerge de trás da garganta.
Um cão desconfiado, que sabe que há algo errado, mas não é capaz de saber o quê é e rosna para mascarar sua fragilidade. Ou para manter sua vigilância? Ou para impor sua presença? Ou para se aquecer de coragem?…

E anda lentamente farejando seu inimigo invisível, sentindo no corpo um tremor que ele agradece de estar ali para lhe apoiar e sinalizar. O gato à espreita se torna então visível e de pronto o cão já sabe o que fazer. Bota para fora o antes constante ruído em altos latidos para enfrentar o inimigo não mais velado. Sabe o que fazer agora, não é mais incapaz, ou pelo menos acha… Corre, ladra, simula um ataque mas só afugenta.

Parece que sabe que se eliminar o inimigo, não terá mais como experimentar todo esse processo que parece lhe é tão familiar, que até gosta…

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Felix Ribeiro

Um realista esperançoso que teima em acreditar que o potencial coletivo tem poder para mudar o mundo