As TransVenturas do Cuêremim

Felix Ribeiro
3 min readApr 24, 2020

--

Algumas poucas notas sobre a busca transformadora de minha essência tribal

Minha mãe sempre me dizia que quando nova sonhava em ter dois filhos. Um deles teria os cabelos castanhos-escuros longos e lisos!

“Ele vai ter uma pele bem moreninha! Igual um indiozinho!”

E mulher guerreira de muita fé, repetia sempre que podia, pouco se importando se a achassem vaidosa ou louca:

“E meus filhos serão formados e inteligentes! Eles vão fazer diferença nesse mundo!”

E o curumim veio ao mundo, muito curioso e arteiro! Cada brinquedo que ganhava, gastava a maior parte do tempo brincando por dentro, mais interessado em entender como funcionava do que fazer funcionar!

Quando perguntavam o que ele queria ser, respondia de pronto: “UM CIENTISTA!”

E o mesmo instinto explorador florescia ao lado de seu pai! Juntos desbravavam mares, trilhas, cachoeiras e rios! E nunca perdiam a oportunidade de saltar das pedras mais altas que encontrassem pra n’agua afundar! Esse grande brinquedo — que os adultos chamam de natureza — apresentado como um presente por seu pai, ele também queria entender como funcionava!

Num dia soube que a natureza tinha criado um novo brinquedo! Diziam que era uma máquina que permitia explorar diversas dimensões desse e de outros mundos. Que podia conectar milhões de outras puras expressões da natureza espalhadas por aí! E que ainda era possível explorar a própria máquina enquanto fazia tudo isso!

A natureza e as máquinas de brincar já o inspiravam! Os computadores — a mais nova máquina criada pela natureza — misturavam tudo e eram instigantes por si só! O curumim decidiu que iria dedicar sua vida para descobrir como unir o homem e a maquina, em harmonia.

O curumim foi aprendendo a como manipular aquelas máquinas. O erê se vestiu de coragem e foi explorando os porquês da natureza! Mergulhou num rio de aprendizado, nadou contra as correntezas dos desafios de conhecer.

Subia em árvore e de ponta-cabeça ficava pro outro lado também entender! O erê se jogava no mar, num turbilhão de informações e códigos! E nesse turbilhão sucumbiu, tomou um caixote e ficou desorientado…

Sem ar nos peitos, começou a arfar. Foi se esquecendo do propósito de cada uma de suas braçadas. Se viu pego numa pororoca paradoxal entre o homem e a máquina. A espuma espessa em seus olhos agora o impediam de enxergar a beleza do natural ser.

Tonteado, desnorteado e exausto largou seu corpo e sem muita opção, decidiu confiar no fluxo do mar.

Até que encontrou um pequeno budah que o lembrou que ainda havia tempo… Que o fez recordar de seu maior propósito, que mostrou que ele não estava sozinho naquela imensidão de águas.

Ao compartilhar sua história foi re-despertando a coragem genuína do erê.
Descobriu que coragem não era só surfar na onda para se sentir acima do mar, e sim um com ele.

E assim o curumim foi descobrindo sua tribo!

Que haviam espalhados por aí tantos erês, curumins, gurias e molecas que aspiravam o mesmo mundo! Onde as máquinas não congelavam os corações, mas os aqueciam até que se fundiam numa única força impulsionadora!

Essa grande tribo — diversa e plural — agora continha diversos mundos fantásticos, prontos para serem desbravados um a um!

E estavam sedentos por desbravar juntos!

Alcançariam por fim o grande desafio de conectar o melhor da criação e do criador! E nesse percurso, entenderam que precisavam também se ajudarem brincando de médicos, curandeiras , parteiras e xamãs.

Pois se reconheciam nas feridas uns dos outros, feridas deixadas pelas máquinas infectadas pela vaidade e incredulidade do pseudo-adulto.

--

--

Felix Ribeiro

Um realista esperançoso que teima em acreditar que o potencial coletivo tem poder para mudar o mundo